Um caso extremamente raro chocou a comunidade médica: um homem morreu após receber um rim infectado pelo vírus da raiva, situação que expôs uma brecha crítica nos protocolos de segurança para transplantes. A investigação conduzida pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) confirmou que a contaminação veio diretamente do órgão implantado.
A raiva normalmente é transmitida pela saliva de animais infectados — como cães, morcegos e guaxinins — e quase sempre é fatal quando os sintomas começam. A transmissão entre humanos é raríssima, mas pode acontecer em transplantes de órgãos contaminados. Uma revisão publicada em 2018 já havia registrado 13 episódios semelhantes entre 1978 e 2017.

O episódio mais recente ocorreu após um transplante realizado em dezembro de 2024. O doador, que havia morrido dias antes, não apresentava sinais evidentes de infecção. Só depois descobriu-se que ele tinha sido arranhado por um guaxinim, detalhe que acabou passando despercebido na triagem. Quase dois meses após receber o rim, o paciente transplantado apresentou sintomas neurológicos graves e morreu. Exames detectaram o RNA do vírus no próprio órgão, fechando o diagnóstico.
Além dele, outras três pessoas receberam tecidos do mesmo doador — no caso, córneas. Para evitar qualquer risco, médicos retiraram esses enxertos e iniciaram o protocolo de profilaxia pós-exposição. Nenhuma delas desenvolveu a doença. O caso agora integra a lista dos pouquíssimos episódios de raiva transmitida por transplante nos Estados Unidos, o quarto desde 1978.
O grande problema, segundo especialistas, é que a raiva em humanos é tão rara que não faz parte da triagem padrão em doadores. O período de incubação também é imprevisível, podendo durar dias ou mais de um ano, o que dificulta ainda mais a detecção precoce.
Por isso, infectologistas ressaltam que qualquer relato de contato com animais silvestres, arranhões recentes ou sintomas neurológicos deve ser analisado com atenção antes de liberar órgãos. Em situações suspeitas, a recomendação é agir rápido: remover tecidos transplantados quando possível, iniciar imediatamente a profilaxia e ampliar a investigação epidemiológica.
Perguntas simples na triagem — como “teve contato com morcegos ou animais selvagens?” — podem evitar tragédias. O caso reforça uma verdade dura: transplantes salvam vidas, mas dependem de protocolos ainda mais cuidadosos para garantir segurança total. Embora raríssima, a transmissão de raiva por órgãos doados é real e, por ser praticamente 100% fatal após os primeiros sintomas, exige vigilância máxima.








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